Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e
criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a
maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos.
"Pra caralho", por exemplo. Qual expressão traduz melhor a idéia de
muita quantidade do que "Pra caralho"? "Pra caralho" tende ao infinito, é
quase uma expressão matemática. A Via-Láctea tem estrelas Pra caralho, o
Sol é quente Pra caralho, o universo é antigo Pra caralho, eu gosto de
cerveja Pra caralho, entende?
No gênero do "Pra caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta
negação, está o famoso "Nem fodendo!". O "Não, não e não!" e tampouco o
nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade "Não, absolutamente não" o
substituem. "Nem fodendo" é irretorquível, e liquida o assunto. Te
libera, com a consciência tranqüila, para outras atividades de maior
interesse em sua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta
pedindo o carro pra ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência.
Solte logo um definitivo "Marquinhos, presta atenção, filho querido,
NEM FODENDO!".
Por sua vez, o "porra nenhuma!" atendeu tão plenamente as situações onde
nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo
escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível
imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional.
Como comentar a gravata daquele chefe idiota senão com um "é PhD porra
nenhuma!", ou "ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma! . O
"porra nenhuma", como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível
bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa
denúncia pública de um canalha. São dessa mesma gênese os clássicos
"aspone", "chepne", "repone" e, mais recentemente, o "prepone" -
presidente de porra nenhuma.
Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um
"Puta-que-pariu!", ou seu correlato "Puta-que-o- pariu!", falados assim,
cadenciadamente, sílaba por sílaba... Diante de uma notícia irritante
qualquer um "puta-que-o- pariu!" dito assim te coloca outra vez em seu
eixo. Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e
sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de
maiores dores de cabeça.